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Contra a Indiferença

A visão de um cidadão activo e inconformado com certos aspectos e da sociedade.

A visão de um cidadão activo e inconformado com certos aspectos e da sociedade.

Contra a Indiferença

11
Jul10

Um novo paradigma civilizacional é preciso!

Fernando Nobre

No dia mundial da população, reitero o meu apelo e reforço o meu alerta para a necessidade premente de adoptar comportamentos que contribuam para a mitigação das alterações climáticas.

 

Em 2006, estive como convidado numa cimeira das Nações Unidas, em Nova Iorque, com representantes da Sociedade Civil Mundial. O tema dessa reunião era as Alterações Climáticas. Saí de lá assustado, e desde então nunca mais deixei de o estar pois a situação do nosso Planeta tem-se deteriorado de forma acelerada desde então. A questão do aquecimento global é, em termos imediatos e absolutos de urgentíssima prioridade para este início de século XXI.

 

Ainda em Julho do ano passado, como sinal da premência do desafio, participei, na cidade de Gaia (nome da mítica deusa Terra), na qualidade de embaixador da maravilhosa iniciativa “Condomínio da Terra” no ”Fórum Internacional do Condomínio da Terra”. Nele estiveram presentes nomes como Bill Mckibben, perito ambientalista norte-americano de incontestável saber e mérito. O que sobressaiu desse encontro, dezassete anos após a Cimeira do Rio de 1992 e do infrutífero protocolo de Quioto e outras pouco ambiciosas e determinadas cimeiras, como a de Bali e a de Copenhaga, em 2009, é que estamos já sem qualquer margem de manobra se quisermos evitar a previsível destruição do nosso Planeta.

 

Faça-se o que se fizer já hoje, os efeitos do aquecimento global devido à maciça emissão de CO2 e da destruição da camada de ozono, são já inevitáveis para os próximos 20 ou 30 anos. As decisões positivas imprescindíveis que venham a ser tomadas hoje, como por exemplo, a redução significativa das emissões de gazes com efeito de estufa, (e temo que a incompetente e fraca governação global ainda se mantenha prisioneira ou subserviente dos poderosíssimos interesses e lóbis das empresas petrolíferas e outras fontes energéticas poluidoras - carvão, xistos betuminosas…), só surtirão efeito daqui a 20, 30 ou até mesmo 40 anos! O que quer dizer que toda a população do nosso Planeta vai ter que pagar um altíssimo preço por esses desmandos, dignos do louco imperador romano Nero. Já não é só Roma que está a arder: é todo o Planeta! Os efeitos catastróficos de tantos devaneios já estão bem visíveis, salvo para os que lucram no imediato e os pseudo “cientistas” sem ética nem coluna vertebral que, bem pagos por certos lóbis, publicam “estudos” encomendados que apontam para… uma nova era glaciar. Com certeza para daqui a milhares de anos quando a nossa espécie, e as outras, já tiverem desaparecido. Já perceptíveis e visíveis são o aquecimento global. Por cada grau centígrado que a temperatura global subir na Terra, os efeitos catastróficos serão exponenciais. Mais 1ºC é grave, no Nepal a temperatura já subiu 1º C nos últimos 30 anos; mais 3ºC é catastrófico (acontecerá daqui a 30 a 60 anos se não soubermos implementar um novo e sustentável paradigma energético e de consumo); mais 6ºC será possivelmente o fim do Planeta (poderá acontecer daqui a 100 a 300 anos!), implicando a evacuação da população da Terra (no máximo 1 milhão de habitantes) para o fundo dos Oceanos, a Lua, Marte e a Lua de Júpiter (Europa). Aconselho desde já a leitura da Revista “Sciences et Avenir” de Julho 2008 com a entrevista feita ao astrofísico Alfred Vidar-Madjor (pág. 63), Director de pesquisa no CNRS (Centre Nacional de Recherche Scientifique) e membro do Institut d’Astrophysique de Paris. Arrepiante de lucidez e de perspectiva global!

 

Esse aquecimento já está a provocar ou provocará a curto médio prazo:

 

- Degelo do Árctico, Antárctico, Gronelândia, Alasca, Himalaias, … (algumas mentes mais perversas vêem nisso grandes oportunidades para ainda mais chorudos negócios com lucros imediatos e fáceis: navegação pela rota do Árctico mais curta e com seguros mais baratos… e exploração mais fácil e menos onerosa do petróleo e outros minérios do Alasca, Gronelândia, Antárctico). De referir que o Serviço Mundial de Monitorização dos Glaciares, com sede em Zurique, revelou há poucos meses uma brusca acentuação de degelo de todos os glaciares no Mundo. Tal constatação levou a que a China e a Índia decidissem criar um programa de investigação científica comum para monitorizar os glaciares dos Himalaias.

O degelo acentuado e rápido dessas reservas de água do Mundo vai descontrolar as correntes frias profundas dos Oceanos, perturbar a regularidade de rios vitais para centenas de milhões de pessoas (Ganges, Yangtze, Huang He) e deslocar e matar à fome milhões de pessoas que terão de fugir das suas terras, nomeadamente dos deltas desses rios, futuramente submersos! Só no delta do Ganges, estima-se que vivam entre 125 e 143 milhões de pessoas e que dele dependem cerca de 300 milhões. O delta tem uma densidade populacional de 200 pessoas/Km2.

 A subida acentuada do nível dos mares, 1 a 2 metros em 100 anos, submergirá muitas cidades e vilas no Mundo que se concentram nas orlas marítimas e albergam centenas de milhões de pessoas…

 

- A subida global das temperaturas provocará a expansão de doenças tais como a Malária e o Dengue, que regressarão ou se implantarão nas regiões ora temperadas como o sul da Europa;

 

- A alternância de períodos de secas e de chuvas torrenciais, imprevisíveis, aumentarão substancialmente a fome, os refugiados, os deslocados, os conflitos pela comida, pela água ou pela mera sobrevivência em múltiplas regiões do Mundo e não apenas na África já esquecida e tão mal tratada…

 

E porque estamos apenas a entrar num furacão à escala planetária, não somos ainda capazes de abarcar toda a sua amplitude embora já estejamos a ser fustigados por ele.

Na minha infância desaconselhava-se a exposição solar nas praias das 13 às 14 horas e a utilização de cremes protectores era de índice relativamente baixo. Hoje em dia, o período já se alargou: das 11 às 16 horas e o factor de protecção dos cremes aumentou. Para quando a interdição total à exposição nociva das radiações solares cada vez mais intensas?

 

Se quisermos ter um Mundo sustentável, com futuro viável para todos, temos, nós, os ricos, que aceitar apertar o cinto para que eles, os menos ricos ou mais pobres, possam desapertar um pouco o deles! Como referi anteriormente, não podemos exigir aos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e outros, que não se desenvolvam mais sob o pretexto de que vão poluir mais… e esgotar os recursos do Planeta! Que autoridade moral nos assiste para pedirmos, por exemplo, à China para travar o seu consumo energético e o seu desenvolvimento, quando nós (EUA + Canadá + UE) temos sido os grandes poluidores (menos de 1/6 da população e 36% da emissão de CO2) e os grandes predadores dos recursos do Planeta?

É pois de um novo paradigma civilizacional que o nosso Mundo carece e urgentemente!

 

Novo paradigma nas relações Norte – Sul e Ocidente - Oriente e novo paradigma de consumo, de utilização da energia e de outras matérias-primas, pondo à cabeça as madeiras, com a gravíssima e insustentável exploração florestal em África, Ásia, Amazónia… Salvemos os nossos pulmões verdes! É necessário parar com a desenfreada desflorestação e apostar decisivamente nas energias limpas (ou verdes): eólicas, solares, marés, barragens… E sobretudo evitarmos o perigoso caminho da energia atómica! Nesta matéria, Portugal tem todas as potencialidades para se tornar num paradigma positivo e criar uma imagem (ou marca) que sirva de alavanca ao nosso crescimento e à nossa sustentabilidade.

 

Nestes novos paradigmas, que a bem ou a mal se imporão, o Humanismo, Inteligência e Bom Senso terão que prevalecer. Trata-se da Sobrevivência Global e de evitar genocídios com dimensões dantescas. Uma coisa é certa: o nosso Planeta não aguenta que todos os seus habitantes vivam com o nível de vida e de consumo dos ocidentais! Em suma, com a nossa pegada ecológica. Se todos os habitantes do planeta vivessem como nós, os portugueses, seriam precisos dois planetas Terra. A viver como os nórdicos ou os norte-americanos seriam precisos três ou quatro planetas Terra…

 

Então, como fazer?

Temos que aceitar, repito, apertar o nosso cinto para que os outros possam enfim aliviar um pouco o deles porque há muito que andam com espartilhos e camisas de sete varas e já não aguentam mais! Teremos políticos, corajosos e lúcidos que nos ousem dizer claramente isto e exigir que todos, a começar pelo topo da pirâmide social e por eles próprios, façam o que tem de ser feito?

Se assim não for, e a última Cimeira do G8 (Julho de 2009) em Áquila, na Itália, assim infelizmente demonstrou, preparemo-nos desde já e a mais curto prazo do que imaginam, para violentíssimos confrontos globais e um longo período de trevas. Duvido que os decisores actuais, até hoje coniventes com os comportamentos que nos colocaram à beira do precipício, sejam capazes dessa alteração comportamental.

Sem a pressão da Sociedade Civil Global Solidária e o surgimento de uma nova geração de políticos e gestores que se alicercem na frontalidade, ética, valores e bom senso, continuaremos com as estéreis boas intenções. Apelo pois a todos os cidadãos para tomarem consciência e positivamente pressionarem…

 

É por isso que, se for eleito Presidente da República, terei em muito particular atenção a questão ambiental.

 

Abraço!

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