2011
Encerra-se o Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social e inicia-se, em Janeiro, o Ano Europeu do Voluntariado.
Um e outro deviam vigorar em permanência. As duas causas são essenciais. São pedras basilares na vivência em sociedade.
A pobreza é um flagelo. É uma violação sistemática dos direitos humanos. A pobreza e a exclusão social impedem, desde logo, o cumprimento do 1º artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem – igualdade em dignidade e direitos. A situação de pobreza e/ou exclusão castra, à partida, grande parte das possibilidades de evolução pessoal. E as perspectivas não são as melhores. Quando todos trabalhamos para atingir os Objectivos do Milénio e nos congratulamos com a evolução, ainda que lenta, da situação de pobreza extrema em que vivem algumas populações no Mundo, assistimos, no nosso país, a um retrocesso cada vez mais evidente.
A AMI aplica, actualmente, mais de 50% dos seus recursos financeiros em projectos em Portugal. Isto, meus amigos, apesar de ser um claro sinal do empenho da AMI na mitigação dos problemas ao nível nacional é também, infelizmente, sinal de que há cada vez mais necessidade. É assim que a celebração do Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social não podia ter sido mais pertinente.
Mas há que continuar!
E se constatamos que o Estado não fará mais em 2011, do que fez em 2010; que as empresas estão também elas a atravessar um momento difícil; que as organizações não governamentais, IPSS e associações várias estão no limite das suas capacidades, façamo-lo nós enquanto cidadãos. Cada indivíduo tem, na sociedade, tanta responsabilidade como o Estado ou agentes do poder económico. Cada um de nós deve deitar mãos à obra e fazer pelos outros. Pelo vizinho. Pelo amigo. Olhemos quem está à nossa volta e ofereçamos a nossa mão, o nosso tempo. Por vezes, esse gesto quase que basta para fazer a diferença. A isso se chama voluntariado. E assim se deve viver em sociedade.
Celebremos então o Ano Europeu do Voluntariado considerando-o parte da solução para a situação de pobreza e exclusão social em que algumas pessoas, infelizmente, vivem. Só assim poderemos fazer face aos tempos verdadeiramente difíceis que se avizinham. Unidos, com espírito de entreajuda. Empenhados em causas. Dando-nos ao trabalho de nos envolvermos... Devemos ser nós, os cidadãos, a mostrar que a crise financeira é vencível. E que a indiferença não predominará.
Existe um caminho, ainda que longo. E ele está em cada um de nós. Se cada um continuar no seu trilho sem olhar para o que se passa ao lado, para além de uma crise financeira teremos, muito em breve, uma crise social devastadora. Estou certo que o voluntariado é não só a solução para muitos problemas, mas também a fonte mais cristalina de auto-estima de um povo.
Escrevi-o em 2001 e continuo a acreditar: "Os desafios que a Humanidade tem de enfrentar são enormes mas tenho a convicção de que os cidadãos saberão responder positivamente tanto no que diz respeito à defesa do ambiente como à condução de uma ajuda humanitária verdadeiramente credível e não manipulada por outros interesses menos claros, como no combate sem tréguas à pobreza e à exclusão social e também numa luta sem quartel contra toda a forma de intolerância. Num mundo em que a ausência de políticas corajosas gera a ausência de causas, estou convicto que uma sociedade civil forte e activa saberá lutar por essas causas, as eternas causas universais, as causas dos valores, porque é disso que estamos à espera, duma globalização de valores e sobre isso, sem dúvida nenhuma, o voluntariado tem uma palavra decisiva a dizer. Estou certo que a dirá."
Desejo a todos um ano de 2011 repleto de acções de voluntariado! Será, certamente, um ano de riqueza interior.