A Europa a Rússia e o Kosovo
No passado mês de Agosto, na Geórgia, ex-república da URSS que bem conheço, devido ao aventurismo intempestivo do seu pouco democrático presidente, tivemos a primeira consequência concreta da aventura irresponsável da “independência” do Kosovo.
Independência essa, incentivada e reconhecida à revelia do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas, pelos EUA, a maioria dos Estados Europeus (Espanha e poucos outros povos foram até hoje, honrosas excepções) e a própria U.E.
À força do direito sobrepôs-se o direito da força.
Não contentes com este acto violador, verdadeira cereja em cima de um bolo de irresponsabilidade e leviandade, o “Ocidente” (entenda-se os EUA e alguns países europeus) resolveu cercar a Rússia com o alargamento da NATO às suas fronteiras e a instalação de mísseis nas suas mais próximas cercanias, sob pretextos falaciosos de melhor interceptar hipotéticos mísseis iranianos… O “Ocidente” quis esfolar o urso pensando-o morto ou agonizante.
Erro crasso: o urso - a Rússia - só estava adormecido. Acordou: ainda tem garras e dentes fortes e não aceita ser esfolado vivo.
O anão político e militar europeu, sem liderança nem estratégia, anuiu, consentiu e calou-se perante essa estratégia de afrontamento contra a Rússia e fragilizou-se ainda mais. Em vez de se construir a Europa (do Atlântico aos Urais) incluindo a Rússia, o que teria todo o cabimento histórico, cultural, religioso, económico, energético, politico, militar e geográfico, para edificar um verdadeiro pilar europeu sólido no Mundo, que tanto faz falta, optou-se pela exclusão da Rússia.
Os “líderes” europeus, na sua subserviência aos EUA, esqueceram-se mais uma vez que os interesses estratégicos vitais para a Europa não são sempre, nem necessariamente, os mesmos que para os EUA!
Para as organizações humanitárias o futuro anuncia-se, para já, negro de conflitos independentistas. Com o Kosovo e agora também a Ossétia do Sul e a Abecásia, a caixa de Pandora está escancarada. Se a moda dos referendos independentistas pega e se alastra pelo mundo, fazendo tábua rasa sobre o conceito de intangibilidade das fronteiras estatais actuais (pós-coloniais por exemplo), teremos tragédias sem fim em todos os continentes.
A Europa tem que encetar já, porque tem tudo a ganhar com isso, todos os esforços para incluir a Rússia no seu seio. Só assim a Rússia poderá aperfeiçoar e acelerar a sua caminhada para a democracia e se evitará mais cenários de guerra na Europa.
Ainda não é tarde mas é urgente, começar-se um diálogo construtivo em vez da política da exclusão, da humilhação e do confronto que se tem levado a cabo contra a Rússia, desde 1991.
Essa política pode interessar os EUA mas não interessa certamente à Europa.
Portugal, país pequeno e militarmente frágil, ainda que dos raríssimos Estados-Nação no Mundo, deve defender sempre o Direito Internacional e a Carta das Nações Unidas. Já nos chegou o erro grosseiro do Iraque.
Assim actuando, daremos um contributo importante para a nossa própria salvaguarda futura, para a paz e para amenizar as tragédias humanas que se avizinham.