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Contra a Indiferença

A visão de um cidadão activo e inconformado com certos aspectos e da sociedade.

A visão de um cidadão activo e inconformado com certos aspectos e da sociedade.

Contra a Indiferença

21
Jul14

Grito e choro por Gaza e por Israel

Fernando Nobre
Um texto que escrevi há anos, aqui mesmo neste blog, e que está dolorosamente atual...
 

Há momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos porque ao não reagirmos estamos a ser cúmplices dos mesmos por concordância, omissão ou cobardia. 

O que está a acontecer entre Gaza e Israel é um desses momentos. É intolerável, é inaceitável e é execrável a chacina que o governo de Israel e as suas poderosíssimas forças armadas estão a executar em Gaza a pretexto do lançamento de roquetes por parte dos resistentes (“terroristas”) do movimento Hamas.

 

Importa neste preciso momento refrescar algumas mentes ignorantes ou, muito pior, cínicas e distorcidas:

- Os jovens palestinianos, que são semitas ao mesmo título que os judeus esfaraditas (e não os askenazes que descendem dos kazares, povo do Cáucaso), que desesperados e humilhados atuam e reagem hoje em Gaza são os netos daqueles que fugiram espavoridos, do que é hoje Israel, quando o então movimento “terrorista” Irgoun, liderado pelo seu chefe Menahem Beguin, futuro primeiro ministro e prémio Nobel da Paz, chacinou à arma branca durante uma noite inteira todos os habitantes da aldeia palestiniana de Deir Hiassin: cerca de trezentas pessoas. Esse ato de verdadeiro terror, praticado fria e conscientemente, não pode ser apagado dos Arquivos Históricos da Humanidade (da mesma maneira que não podem ser apagados dos mesmos Arquivos os atos genocidários perpetrados pelos nazis no Gueto de Varsóvia e nos campos de extermínio), horrorizou o próprio Ben Gourion mas foi o ato hediondo que provocou a fuga em massa de dezenas e dezenas de milhares de palestinianos para Gaza e a Cisjordânia possibilitando, entre outros fatores, a constituição do Estado de Israel.


- Alguns, ou muitos, desses massacrados de hoje descendem de judeus e cristãos que se islamisaram há séculos durante a ocupação milenar islâmica da Palestina. Não foram eles os responsáveis pelos massacres históricos e repetitivos dos judeus na Europa, que conheceram o seu apogeu com os nazis: fomos nós os europeus que o fizemos ou permitimos, por concordância, omissão ou cobardia! Mas são eles que há 60 anos pagam os nossos erros e nós, a concordante, omissa e cobarde Europa e os seus fracos dirigentes assobiam para o ar e fingem que não têm nada a ver com essa tragédia, desenvolvendo até à náusea os mesmos discursos de sempre, de culpabilização exclusiva dos palestinianos e do Hamas “terrorista” que foi eleito democraticamente mas de imediato ostracizado por essa Europa sem princípios e acéfala, porque sem memória, que tinha exigido as eleições democráticas para depois as rejeitar por os resultados não lhe convirem. Mas que democracia é essa, defendida e apregoada por nós europeus?


- Foi o governo de Israel que, ao mergulhar no desespero e no ódio milhões de palestinianos (privados de água, luz, alimentos, trabalho, segurança, dignidade e esperança ), os pôs do lado do Hamas, movimento que ele incentivou, para não dizer criou, com o intuito de enfraquecer na altura o movimento FATAH de Yasser Arafat. Como inúmeras vezes na História, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, como também aconteceu recentemente no Afeganistão.


- Estamos a assistir a um combate de David (os palestinianos com os seus roquetes, armas ligeiras e fundas com pedras...) contra Golias (os israelitas com os seus mísseis teleguiados, aviões, tanques e se necessário...a arma atómica!).


- Estranha guerra esta em que o “agressor”, os palestinianos, têm 100 vezes mais baixas em mortos e feridos do que os “agredidos”. Nunca antes visto nos anais militares!


- Hoje Gaza, com metade a um terço da superfície do Algarve e um milhão e meio de habitantes, é uma enorme prisão. Honra seja feita aos “heróis” que bombardeiam com meios ultra-sofisticados uma prisão praticamente desarmada (onde estão os aviões e tanques palestinianos?) e sem fuga possível, à semelhança do que faziam os nazis com os judeus fechados no Gueto de Varsóvia!


- Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu do qual temos todos pelo menos uma gota de sangue (eu tenho um antepassado Jeremias!), estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão? O governo israelita, por conveniências políticas diversas (eleições em breve...), é hoje de facto o governo mais anti-semita à superfície da terra!


- Onde andam o Sr. Blair, o fantasma do Quarteto Mudo, o Comissário das Nações Unidas para o Diálogo Inter-religioso e os Prémios Nobel da Paz, nomeadamente Elie Wiesel e Shimon Perez? Gostaria de os ouvir! Ergam as vozes por favor! Porque ou é agora ou nunca!


- Honra aos milhares de israelitas que se manifestam na rua em Israel para que se ponha um fim ao massacre. Não estão só a dignificar o seu povo, mas estão a permitir que se mantenha uma janela aberta para o diálogo, imprescindível de retomar como único caminho capaz de construir o entendimento e levar à Paz!


- Honra aos milhares de jovens israelitas que preferem ir para as prisões do que servir num exército de ocupação e opressão. São eles, como os referidos no ponto anterior, que notabilizam a sabedoria e o humanismo do povo judeu e demonstram mais uma vez a coragem dos judeus zelotas de Massada e os resistentes judeus do Gueto de Varsóvia!

Vergonha para todos aqueles que, entre nós, se calam por cobardia ou por omissão. Acuso-os de não assistência a um povo em perigo! Não tenham medo: os espíritos livres são eternos!

 

É chegado o tempo dos Seres Humanos de Boa Vontade de Israel e da Palestina fazerem calar os seus falcões, se sentarem à mesa e, com equidade, encontrarem uma solução. Ela existe! Mais tarde ou mais cedo terá que ser implementada ou vamos todos direito ao Caos: já estivemos bem mais longe do período das Trevas e do Apocalipse.

É chegado o tempo de dizer BASTA! Este é o meu grito por Gaza e por Israel (conheço ambos): quero, exijo vê-los viver como irmãos que são.
 

25
Jan09

Zimbabué - Uma história cinzenta…

Fernando Nobre

Regressei do Zimbabué dia 20 deste mês. Questões pessoais, saúde de uma das minhas filhas, impediram-me de escrever este texto mais cedo.


Como tudo na vida, a História deste país nunca foi preta ou branca, sempre cinzenta...
A tragédia que assola este país (desestruturação do Estado, inflação inimaginável superior a 300 milhões de % em 2008, ditadura, fome, SIDA, cólera, desemprego massivo, desesperança tremenda…) é o resultado de uma colonização e descolonização desastrosas, de uma falta de bom senso gritante nas relações políticas e pessoais entre o país e a sua ex -“potência” colonial, e vice-versa, e de uma desgovernação tremenda por parte de uma liderança africana que teme o seu futuro caso tenha que deixar a cadeira do aparente poder…


Numa visão panorâmica sucinta da sua História mais recente, e por isso sem revisitar a sua pré-história (nem a possível origem dos hominídeos…) nem a história dos seus reinos pré-coloniais, bastará relembrar meia dúzia de factos:


- Cecil Rhodes, ao ocupar o que são hoje a Zâmbia e o Zimbabué (depois Rodésia e mais tarde Rodésia do Norte/Zâmbia e do Sul/Zimbabué) impediu a concretização do sonho português, o bem conhecido “Mapa Cor-de-Rosa”, que consistia em juntar numa faixa, do Atlântico ao Índico, Angola a Moçambique. Este facto, no imediato início do reino de Dom Carlos, terá contribuído para o fim da Monarquia em Portugal, sem culpa nenhuma do Rei Dom Carlos, diga-se de passagem.


- Sob mandato do Reino Unido, em 1961, foi criada uma constituição que favorecia completamente os brancos no poder na Rodésia do Sul (a Rodésia do Norte tornou-se independente com o nome de Zâmbia).


- Em 1965 o poder branco, liderado por Ian Smith, declara unilateralmente a independência. Nasce então a nova Rodésia, branca e racista, não reconhecida pelo Reino Unido e pela Comunidade Internacional, os quais exigiam mais direitos para a população negra.


- Em 1979 ocorrem finalmente eleições livres, após um período de sanções das Nações Unidas e de guerrilha, e nasce o Zimbabué, declarado independente em 1980, no seio da Commonwelth, com Robert Mugabe como Primeiro-Ministro. O mesmo torna-se Presidente em 1987 e, desde então, lá se mantém.


- O caos começa a instalar-se no país no ano 2000 quando Mugabe começa a sua campanha de redistribuição das terras. Essa campanha, que tinha a sua razão de ser (até aí uma ínfima minoria de agricultores brancos continuava a deter a grande maioria das terras agrícolas) foi infelizmente conduzida da pior maneira por parte de todas os interessados (governos do Zimbabué e do Reino Unido e agricultores brancos) que não souberam defender nem salvaguardar os seus “legítimos”, “justos” e “éticos” interesses nem salvaguardar os superiores interesses do país e das suas populações.
Faltou-lhes um De Klerk e um Mandela e alguém no Reino Unido que conhecesse África, tivesse tacto e sensibilidade e soubesse não derramar óleo no fogo, servindo de elemento moderador e conciliador…


- Podia-se e devia-se ter feito, se bem negociada, uma reforma agrária com bom senso, gradual, com cabeça tronco e membros, com adequada e atempada formação dos agricultores negros, até aí, diga-se em abono da verdade, espoliados das melhores terras do país…


- Infelizmente para o povo do Zimbabué, todas as partes em causa, quando era necessário calma, racionalidade, sangue frio e interesse de Estado, reagiram sobretudo com emoção, egoísmo, ambições, por vezes turvas, e ultrapassados e infundados argumentos históricos…


O resultado está à vista: um profundíssimo descalabro que, como sempre, gravemente penalizou um povo inocente. Lá diz um provérbio africano: “Quando dois elefantes andam à bulha, quem se lixa é o capim…”. Assim foi, continua e continuará a ser...
A desastrada reforma agrária levada a cabo só serviu a uma classe política e militar altamente corrupta que se apropriou das terras sem nada produzir… e exilou muitos agricultores brancos que partiram para a Austrália, Nova Zelândia, Moçambique, África do Sul, etc.


Hoje, vive-se uma situação económica e social inimaginável: numa população de 11 a 12 milhões de pessoas, cinco milhões vivem da ajuda alimentar das Nações Unidas, quatro milhões são emigrantes nos países vizinhos (África do Sul, Botswana, Moçambique, Zâmbia e …) para sobreviverem e permitir o sustento dos seus familiares …


Em termos cambiais, apenas três exemplos: - no ano 2008 foram tirados vinte zeros às notas… - dia 17 deste mês foram lançadas as notas de triliões de dólares do Zimbabué: no dia do lançamento, dia 17, a nota de 100 triliões (um trilião = um milhão de milhão) “valia” 1.000 USD para dois dias depois, dia 19, já só “valer” 60 (hoje é possível que só “valha” 2!) – já se fala em lançar notas em ziliões (?), notas com 60 zeros…


Em termos políticos, entre o ZANU-PF e o seu líder o Presidente Robert Mugabe, líder histórico da independência, e o MDC e o seu líder Morgan Tsvangirai, o impasse é total. A última ronda de negociações começada dia 19, ainda eu lá estava, terminou em mais um rotundo fracasso.


Em termos humanos o resultado é, como se depreende de tudo o que já expus, uma tragédia. Mas como o Zimbabué não representa nenhum interesse vital para a liderança global, nem em termos geoestratégicos nem comerciais (petróleo, coltan, urânio, diamantes…), a dança macabra para as suas populações vai poder continuar…
 

Espero que a nova liderança nos EUA se empenhe aqui, como na Região dos Grandes Lagos, na Somália ou no Darfur, na resolução desta catástrofe humana.
Para que tal resulte será necessário, nomeadamente, dar ao Senhor Mugabe a garantia que ele não vai acabar a sua vida como um cão com sarna… como aconteceu, por exemplo no Zaire, com o Mobutu que, após ter bem servido a quem mandava, foi descartado sem dó nem piedade, ainda que padecendo de um cancro em fase terminal na próstata (salve-se a honra de Hassan II de Marrocos que o acolheu para morrer), em nome das cínicas relações e dos espúrios interesses da “real” diplomacia internacional…


É neste cenário que a AMI partirá muito em breve para prestar auxílio humanitário na Diocese de Gokwe, com cerca de 600 mil pessoas, a uns 300 km de Harare… É essa a sua missão.

 

 

PS: Aconselho a que leiam o excelente artigo, da corajosa e exemplar jornalista Alexandra Lucas Coelho (que gostaria de conhecer), publicado hoje sábado 24-01-09 no Jornal Público. É um violento murro no estômago de qualquer ser humano. Só as bestas não se sentiram, ou não se sentirão, arrepiadas de horror ao ler o seu relato. Fala do Gueto de Gaza. Os nazis praticaram também esse género de horrores no Gueto de Varsóvia. É de verdadeiro terror que se trata. Em nome da Humanidade ACUSO de CRIMES CONTRA A HUMANIDADE as forças militares e os governantes que executaram e permitiram tamanha barbárie. Doa a quem doer. E não me venham com cantigas por favor! Leiam antes o artigo!


TRATA-SE DE UM IMPERATIVO DE CONSCIÊNCIA EM NOME DOS SERES HUMANOS! TODOS ELES: SEJAM QUEM FOREM, ESTEJAM ONDE ESTIVEREM E SEJA QUANDO FOR!


 

16
Jan09

Do Zimbabué

Fernando Nobre

Já vamos em 1100 mortos (355 crianças) na Palestina e 13 do lado de Israel. E a matança do governo israelita continua e reforça o Hamas...

 

Enquanto ser humano sinto vergonha, pela Humanidade, por Israel.

 

Deveremos assistir impávidos e serenos a esta tragédia, para todos nós, até dia 20 de Janeiro (tomada de posse de Barack Obama) ou 10 de Fevereiro (eleições em Israel)?

 

Eu não aguento e grito: parem imediatamente com esse horror e terror!

 

Estou farto de desumanidade! Uns são pessoas e outros são baratas? Não posso ficar indiferente perante tamanha barbaridade. Há que parar e dialogar já!

 

Já temos que chegue com o Darfur, a Somália, o Congo, o Iraque, o Afeganistão, a Colômbia, a Birmânia, o Zimbabué...

12
Jan09

Conflito Israel-Palestina: um apelo à Razão

Fernando Nobre

Vamos no 17º dia de conflito em Gaza e já com mais de 900 mortos e 4000 feridos.

 

A esse respeito quero apenas relembrar que, na altura do conflito da Sérvia com a sua região autónoma, o Kosovo, em 1999, acusavam-se as forças sérvias de terem morto cerca de 900 kosovares como retaliação de ataques sofridos por parte do UÇK. Essa situação levou à intervenção da NATO que acusava a Sérvia de "genocídio". Quando os bombardeamentos da NATO na Sérvia provocaram 900 a 1000 mortos sérvios, falou-se em "danos colaterais". O que eu hoje me pergunto é se em Gaza vamos falar de "genocídio" ou de "danos colaterais"...

 

APELO a um cessar-fogo imediato e ao diálogo.

 

Permito-me transcrever aqui um texto meu, publicado no Diário Económico de dia 9 do corrente:

 

Seria muito longo abordar, com a profundidade histórica, étnica, religiosa, geográfica e económica…necessárias, um assunto de sobremaneira complexo e intricado nos jogos políticos, económicos e militares das potências regionais e mundiais que intervêm no Médio Oriente.
Esta região não precisa mais de óleo sobre o arrasador incêndio, particularmente violento nos dias de hoje, que há décadas lá se vive. Precisa sim de bom senso e razão.
Ponha-se fim imediato ao massacre e instale-se um cessar-fogo com as seguintes premissas: reconhecimento a breve prazo de dois Estados, soberanos e viáveis, por todos os beligerantes; cessação imediata de apelidações de “terroristas” seja por quem for nessa região; desmantelamento dos colonatos judaicos na Cisjordânia; desmantelamento do muro da exclusão e humilhação; fim dos tiros sobre Israel e das retaliações sobre Gaza; reconhecimento do Hamas como partido político; interposição neutral de forças militares convincentes das Nações Unidas até que os dois povos semitas irmãos cooperem; investimentos financeiros massivos na Palestina para que o seu povo possa viver com dignidade e volte a ter esperança.
O estatuto de Jerusalém, que deve ser declarada Cidade Santa, fica para depois.
É urgente a Paz. Em nome dela são necessárias concessões bilaterais para que se criem pontes de diálogo e de entendimento. É este o meu apelo à razão. Basta de bestialidade e de irracionalidade!

04
Jan09

Grito e choro por Gaza e por Israel

Fernando Nobre

Há momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos porque ao não reagirmos estamos a ser cúmplices dos mesmos por concordância, omissão ou cobardia. 

O que está a acontecer entre Gaza e Israel é um desses momentos. É intolerável, é inaceitável e é execrável a chacina que o governo de Israel e as suas poderosíssimas forças armadas estão a executar em Gaza a pretexto do lançamento de roquetes por parte dos resistentes (“terroristas”) do movimento Hamas.

 

Importa neste preciso momento refrescar algumas mentes ignorantes ou, muito pior, cínicas e destorcidas:

- Os jovens palestinianos, que são semitas ao mesmo título que os judeus esfaraditas (e não os askenazes que descendem dos kazares, povo do Cáucaso), que desesperados e humilhados actuam e reagem hoje em Gaza são os netos daqueles que fugiram espavoridos, do que é hoje Israel, quando o então movimento “terrorista” Irgoun, liderado pelo seu chefe Menahem Beguin, futuro primeiro ministro e prémio Nobel da Paz, chacinou à arma branca durante uma noite inteira todos os habitantes da aldeia palestiniana de Deir Hiassin: cerca de trezentas pessoas. Esse acto de verdadeiro terror, praticado fria e conscientemente, não pode ser apagado dos Arquivos Históricos da Humanidade (da mesma maneira que não podem ser apagados dos mesmos Arquivos os actos genocidários perpetrados pelos nazis no Gueto de Varsóvia e nos campos de extermínio), horrorizou o próprio Ben Gourion mas foi o acto hediondo que provocou a fuga em massa de dezenas e dezenas de milhares de palestinianos para Gaza e a Cisjordânia possibilitando, entre outros factores, a constituição do Estado de Israel..


- Alguns, ou muitos, desses massacrados de hoje descendem de judeus e cristãos que se islamisaram há séculos durante a ocupação milenar islâmica da Palestina. Não foram eles os responsáveis pelos massacres históricos e repetitivos dos judeus na Europa, que conheceram o seu apogeu com os nazis: fomos nós os europeus que o fizemos ou permitimos, por concordância, omissão ou cobardia! Mas são eles que há 60 anos pagam os nossos erros e nós, a concordante, omissa e cobarde Europa e os seus fracos dirigentes assobiam para o ar e fingem que não têm nada a ver com essa tragédia, desenvolvendo até à náusea os mesmos discursos de sempre, de culpabilização exclusiva dos palestinianos e do Hamas “terrorista” que foi eleito democraticamente mas de imediato ostracizado por essa Europa sem princípios e anacéfala, porque sem memória, que tinha exigido as eleições democrática para depois as rejeitar por os resultados não lhe convirem. Mas que democracia é essa, defendida e apregoada por nós europeus?


- Foi o governo de Israel que, ao mergulhar no desespero e no ódio milhões de palestinianos (privados de água, luz, alimentos, trabalho, segurança, dignidade e esperança ), os pôs do lado do Hamas, movimento que ele incentivou, para não dizer criou, com o intuito de enfraquecer na altura o movimento FATAH de Yasser Arafat. Como inúmeras vezes na História, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, como também aconteceu recentemente no Afeganistão.


- Estamos a assistir a um combate de David (os palestinianos com os seus roquetes, armas ligeiras e fundas com pedras...) contra Golias (os israelitas com os seus mísseis teleguiados, aviões, tanques e se necessário...a arma atómica!).


- Estranha guerra esta em que o “agressor”, os palestinianos, têm 100 vezes mais baixas em mortos e feridos do que os “agredidos”. Nunca antes visto nos anais militares!


- Hoje Gaza, com metade a um terço da superfície do Algarve e um milhão e meio de habitantes, é uma enorme prisão. Honra seja feita aos “heróis” que bombardeiam com meios ultra-sofisticados uma prisão praticamente desarmada (onde estão os aviões e tanques palestinianos?) e sem fuga possível, à semelhança do que faziam os nazis com os judeus fechados no Gueto de Varsóvia!


- Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu do qual temos todos pelo menos uma gota de sangue (eu tenho um antepassado Jeremias!), estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão? O governo israelita, por conveniências políticas diversas (eleições em breve...), é hoje de facto o governo mais anti-semita à superfície da terra!


- Onde andam o Sr. Blair, o fantasma do Quarteto Mudo, o Comissário das Nações Unidas para o Diálogo Inter-religioso e os Prémios Nobel da Paz, nomeadamente Elie Wiesel e Shimon Perez? Gostaria de os ouvir! Ergam as vozes por favor! Porque ou é agora ou nunca!


- Honra aos milhares de israelitas que se manifestam na rua em Israel para que se ponha um fim ao massacre. Não estão só a dignificar o seu povo, mas estão a permitir que se mantenha uma janela aberta para o diálogo, imprescindível de retomar como único caminho capaz de construir o entendimento e levar à Paz!


- Honra aos milhares de jovens israelitas que preferem ir para as prisões do que servir num exército de ocupação e opressão. São eles, como os referidos no ponto anterior, que notabilizam a sabedoria e o humanismo do povo judeu e demonstram mais uma vez a coragem dos judeus zelotas de Massada e os resistentes judeus do Gueto de Varsóvia!

Vergonha para todos aqueles que, entre nós, se calam por cobardia ou por omissão. Acuso-os de não assistência a um povo em perigo! Não tenham medo: os espíritos livres são eternos!

 

É chegado o tempo dos Seres Humanos de Boa Vontade de Israel e da Palestina fazerem calar os seus falcões, se sentarem à mesa e, com equidade, encontrarem uma solução. Ela existe! Mais tarde ou mais cedo terá que ser implementada ou vamos todos direito ao Caos: já estivemos bem mais longe do período das Trevas e do Apocalipse.

É chegado o tempo de dizer BASTA! Este é o meu grito por Gaza e por Israel (conheço ambos): quero, exijo vê-los viver como irmãos que são.
 

30
Dez08

Terra Santa

Fernando Nobre

Ao ouvir as notícias dos últimos 3 dias (200 mortos em Gaza) só posso, mais uma vez , lamentar a escalada de violência na Terra Santa. 

Como é que é possível que, no lugar em que as três religiões do Livro veneram de igual modo os três patriarcas (Abraão, Isaac e Jacob), se assista, continuamente, a tamanha barbárie e que a política do "olho por olho, dente por dente" esteja a deixar-nos a todos cegos e desdentados? 

Esperemos que a próxima liderança norte-americana tenha capacidade para sentar à mesa de negociação os envolvidos e encontrar uma solução. 

Continua actual o texto que escrevi em 2002, como editorial da AMInotícias:

 

Tenho apenas uma pretensão: a de ser um espírito livre. Acredito que a consciência humana é o que há de mais belo porque, quando impoluta, é inquebrantável, indomável e não se vende, e dou como exemplo admirável o insigne Cônsul Aristides de Sousa Mendes, de ilustre memória para toda a Humanidade, na sua intransigente e justa defesa dos judeus durante a 2ª Guerra Mundial.


Dito isto, entendo que há momentos em que, como todo o ser humano, tenho o dever indeclinável de dar um grito de protesto, por imperativo de consciência: é o que tenho feito e espero poder continuar a fazer, enquanto tiver força e oportunidade, contra as injustiças, venham elas de onde vierem.


Hoje, não me posso calar perante o insuportável e intolerável drama do sacrificado e mártir povo palestino, e o cortejo atroz das suas inocentes vítimas israelitas.


O exacerbado drama humano em curso na Palestina e em Israel explica-se, como é evidente, por factores históricos mas, actualmente, sobretudo: 

 

1º- pela intolerância e arrogância do governo israelita tendo à cabeça um primeiro ministro com marcadas tendências neonazis que julga, com o álibi da “luta contra o terrorismo”, tudo lhe ser permitido para matar a Autoridade Palestina, que manifestamente abomina, sem que haja ninguém para o parar na sua louca e suicidária aventura que, manifestamente, já vai longa! Lembro-me do cerco de Beirute em 1982 (estive lá!) e das matanças nos campos de Sabra e Chatila.... E não me venham com o argumento de que “é democrático porque foi eleito”, porque, nesse caso, o famigerado, louco e assassino Hitler também era democrático porque também ele foi eleito em 1933 e, nesse caso, se o Le Pen um dia fosse eleito também se tornaria, ipso facto, democrático...! Como é possível que um povo, o judaico, que tem uma história milenar repleta de sofrimento e de vultos importantíssimos para a Humanidade aceite ser governado por tal carrasco? Interrogo-me, não compreendo. Seria importantíssimo relerem, entre outros, MILA 18, EXODUS, OH JERUSALEM... e repensarem nos Dez Mandamentos de Moisés e no suicídio colectivo em MASSADA durante a ocupação romana para entenderem que não têm o direito de fazerem aos outros o que injustamente lhes fizeram... Por isso sofri ao visitar os campos de extermínio de Auschwitz e de Dachau. Nunca entenderei a barbárie!

2º- pela incompetência e corrupção de uma certa elite política palestiniana e árabe completamente alheada dos verdadeiros interesses dos seus povos, que pouco ou nada fizeram para melhorar as suas tristes e miseráveis condições de vida, nomeadamente nos campos de refugiados, enquanto vultuosos financiamentos da União Europeia, do Japão, da Arábia Saudita, dos Emiratos Árabes e da importante diáspora palestiniana iam chegando... De salientar que o pouco que tinha sido feito está hoje reduzido a escombros pelo vandalismo arrasador das invasões das forças israelitas...

3º- pela indiferença, falta de coerência, inoperância, cobardia e parcialidade da comunidade internacional, em todo o seu espectro e esplendor, dos Estados Unidos da América à União Europeia, passando pelas Nações Unidas e outros ...


Nenhum espírito minimamente bem formado e informado, inclusivamente sobre o sumário da História dos últimos 3000 anos!, pode aceitar ou sequer alhear-se das acções e tendências em curso nem deixar de estar seriamente preocupado com o futuro da Democracia e, por isso, da Paz no Mundo.


Porque no fim de contas é “apenas” e “só” isto que está em causa: a Paz e a Democracia no Mundo. Com o “cair da máscara”, acção cinicamente legitimada com o trágico 11 de Setembro de 2001, instalou-se, sem a mínima vergonha, a política de dois pesos e duas medidas, do mais forte, da indiferença, da intolerância, do desprezo, da arrogância e do “quero, posso e mando” que em nada se coaduna com um Mundo harmonioso e sustentado, que legitimamente pretendemos para todos.

 

Um Requiem pela Humanidade, orquestrado e dirigido por maléficos maestros, está a ser tocado. Oxalá seja interrompido a tempo dando lugar, a nível global, a um novo sistema baseado em Princípios, Valores e Ética com os mesmos Deveres e Direitos para todos, sem excepção.

 

A utilização do vocábulo “terrorista” tem manifestamente, e sobretudo após o 11 de Setembro, intenções e estigmas que importa desmascarar. Não está em causa o profundo sentimento de dor que sentimos pelas vítimas, sejam elas israelitas ou palestinianas, martirizadas pela violência bárbara que a todo o momento as despedaça, (até que seja a nossa vez!), seja às mãos de um homem ou mulher bomba (amanhã, quem sabe?, uma criança), seja às mãos de um condutor de um buldozer que lhes desfaz a casa por cima das cabeças só porque não querem abandoná-las ou porque não as abandonam suficientemente depressa! O que está evidentemente em causa é a perversa manipulação na utilização da palavra “terrorista”. “Terroristas”, poderemos vir a ser considerados todos nós amanhã, você e eu, tal como foram sempre considerados todos os resistentes e, por isso, executados quando apanhados, como sucedeu, por exemplo, com muitos europeus (tais como os heróicos resistentes judeus do Gueto de Varsóvia) assassinados pelos nazis alemães durante a segunda guerra mundial. “Rebeldes” ou “Terroristas” já o foram, ou de tal seriam apelidados hoje!, todos os Resistentes, Libertadores ou Fundadores de Estados, alguns hoje quase endeusados pelos seus povos, tais como Dom Afonso Henriques, Simon Bolívar, José de San Martin, George Washington, General De Gaule, Ben Gourion, Agostinho Neto, Patrício Lumunba, Mao Tse Tung, Ho Chi Minh e milhares de outros que sentiram a necessidade de, em nome dos seus povos, resistir por todos os meios ao seu alcance, mesmo os mais cruéis, à opressão, à humilhação e ao desespero infligidos aos seus povos ou para os levar rapidamente à vitória... Todos eles comanditaram e ordenaram acções de terror contra os seus dominadores ou inimigos vitimando dezenas, centenas, milhares, centenas de milhares, ... de vítimas inocentes: trata-se de factos. Tudo o resto são interpretações históricas, políticas e morais ajuizadas em função da visão ou do interesse dos que tiveram a sorte de saírem vencedores!


Ai dos perdedores, porque para esses não há nem nunca houve perdão: muitos acabaram fuzilados, enforcados ou a apodrecer em masmorras! Assim teriam acabado todos os que citei, como aconteceu com o Patrício Lumunba, se tivessem perdido! Outros houve, porém, embora também terroristas, tais como Fouché, Estaline, Menahem Beguin, Pinochet... que foram adulados acabando as suas vidas feitos duques, presidentes, primeiros ministros e mesmo Prémio Nobel da Paz, pasme-se!


Assim nos querem vender hoje o Arafat e certos palestinos como “terroristas” mas não o fazem com os “terroristas” Ariel Sharon e alguns dos seus seguidores.
No entanto, ambas as partes têm folhas de serviço de puro terror, a primeira como entidade dominada, humilhada e resistente e a segunda como entidade dominadora e opressora ... embora sempre com as palavras Deus, Paz, Democracia e Povo nos lábios.

 

Ouso pois afirmar que para haver Paz na Palestina tem de haver absolutamente: Equidade, Equilíbrio, Respeito, Humanidade e Tolerância.
Quero com isso dizer:
- Dois Estados Independentes (e não um Independente, Israel, e o outro uma Colónia, um Bantustão ou um Protectorado desmilitarizado, sem controlo das suas fronteiras e sem direito a uma política externa autónoma...), o que obrigatoriamente impõe 
- o desmantelamento e o fim dos colonatos israelitas no futuro Estado da Palestina (que já só representa 22% da antiga palestina) e exige que 
- Jerusalém, Cidade Santa, seja reconhecida universalmente como Cidade de Paz, seja desmilitarizada (já que infelizmente, pelos vistos, não se pode desmilitarizar todo o Mundo!), e seja a Capital dos dois povos e dos dois Estados, que deverão ser Estados Irmãos, pois só assim sobreviverão.

 

Judeus e Palestinos deveriam ter sempre em mente que têm o mesmo Patriarca: Abraão, o Pai das três religiões monotéistas do Mundo: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo! É tempo, após desavenças milenares, de viverem como Irmãos em nome de Abraão, Ismael, Isaac e Jacob: a Paz no Mundo assim o exige!

 

É pois, simplesmente, em nome desse Ideal de Justiça e de Humanidade e por isso forçosamente de Respeito pelo Outro (Liberdade, Fraternidade e Igualdade... lembram-se?), que é, para mim, o único que poderia e deveria levar à Paz no nosso Mundo, que eu tenho gritado e continuarei a gritar: por imperativo de consciência! Pode-vos parecer uma Utopia mas... garanto-vos que continuo a achar que vale a pena lutar por utopias, mesmo quando “brindado” com “avisos-ameaças” como recentemente me aconteceu. Está a tornar-se perigoso dizer o que se pensa. Será? Se assim for, maior razão para gritar, por imperativo de consciência, o meu protesto de homem livre.

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